quarta-feira, novembro 22, 2006

 

A Família Vai à Esquadra

manuskritica@gmail.com

Acreditem ou não, mas a história que vão ler é baseada em factos verídicos. Apenas alguns nomes foram alterados e passou-se na nossa cidade de Faro.

Após uma noite com alguns copos à mistura, Marcel (Marcelo como nome de origem portuguesa, emigrante em França), Jean-Phillipe (também ele emigrante em França e irmão de Marcel), e também Pedro e Inês (2 portugueses, familiares dos primeiros 2), saem de um bar, onde estiveram nas últimas horas, e resolvem encaminhar-se para os respectivos veículos:

Pedro (virando-se para Marcel e Jean-Phillipe) – Então, onde é que têm o carro?

Marcel – Ou está ali na baixa ou no largo ao pé do teatro...

Pedro – Bom, ou está num sítio ou está noutro...

Marcel – Acho que está ao pé do teatro...

Pedro – Ok. Nós damo-vos uma boleia até lá. Inês, é melhor conduzires tu que eu já bebi um bocado para além da conta.

Inês – É melhor, é...

(chegam ao largo do teatro):

Inês – Então, onde é que está o carro?

Marcel – Não o vejo...

Pedro – Que marca é o carro?

Jean-Phillipe – Eh pá, é um Volkswagen...

Pedro – Está bem, mas qual é o modelo?

Marcel – Acho que é um Golf... ou será um Polo?..

Pedro – Mau... ou é um ou outro... e de que cor é?

Jean-Phillipe – Ou azul ou preto...

Inês (começa a rir da situação) – Então, mas o carro não é vosso?

Marcel – Não. Foi emprestado por uma prima nossa.

Pedro – Bom, aqui não está. Vamos passar pela baixa.

(chegam à baixa)

Inês – E agora, em que zona da baixa é que está?

Jean-Phillipe – Deixámos ali junto à bomba de gasolina da Doca.

(chegam ao dito posto de combustível)

Marcel – Uai! E o carro?!

Pedro – Olha para isto! Então estacionaram numa zona sujeita a reboque.

(Marcel e Jean-Phillipe começam a discutir, enquanto Pedro e Inês riem-se da situação)

Jean-Phillipe – Eu não te disse que aqui era proibido?!

Marcel – Tu?! Eu é que disse isso. Aliás, quem é que estava a conduzir?!

Jean-Phillipe – Eu bem te disse que aqui dava merda...

Inês – De certeza que foi aqui que estacionaram? É que à bocado também estava no largo e bem se viu...

Jean-Phillipe – De certeza que foi aqui. Então não sei...

Marcel – Então não sabe, diz ele. Inês, dá mais uma volta a ver se vemos o carro, senão teremos de ir à Polícia ver se foi rebocado, que é o mais provável.

Inês – Ok. Vamos lá então.

Pedro – Ao menos, sabem a matrícula do carro?

Marcel – Sei lá a porra da matrícula. Só sei que é um VW... azul ou preto.

(após umas voltas decide-se ir à esquadra. Depois de estacionar o carro de Pedro e Inês, a conversa continua):

Marcel – Então e agora quem é que fala? Nós exprimimo-nos mal em português como sabem.

Jean-Phillipe – Eu não falo.

Pedro – Pois, pois. Deixem estar que eu falo com os homens.

Marcel – E depois quem é que tira o carro lá de dentro? Todos bebemos um bocado.

Jean-Phillipe – Eh pá, só se for a Inês que foi a que bebeu menos.

Pedro – Pois, vai ter que ser.

Inês – E o outro carro em que viemos, quem é que conduz?

Pedro – Boa... eh pá, como estacionámos longe, os gajos não nos vêem a sair daqui com o outro carro.

Marcel – Eh, eh, eh. Isto vai dar barraca. Vai, vai.

Jean-Phillipe – Não vai nada. Vais ver...

(entram na esquadra de polícia)

Pedro – Boa noite, sr. Guarda.

Polícia (um rapaz novo) – Boa noite. Façam favor de dizer.

Pedro – Nós temos a sensação, ou quase a certeza, que o nosso carro foi rebocado, ali na zona da baixa.

Polícia – Muito bem. Posso confirmar com os meus colegas no nosso parque. Mas preciso de saber a matrícula do carro.

Pedro (virando-se para os outros 3, transparecendo um sorriso) – A matrícula do carro?.. Alguém sabe a matrícula?..

(Marcel e Jean-Phillipe em coro):

– Eh pá, isso não sabemos.

Polícia – Bom, assim não vai ser fácil. E a marca e o modelo do carro, assim como a cor do mesmo?

Jean-Phillipe – É um VW, azul ou preto... e é um ou um Golf ou um Polo, mas acho que é um Golf...

Polícia – Hum... isso são poucos dados, mas eu vou ver na mesma com os meus colegas...

Pedro – Ok, obrigado.

(enquanto o guarda de serviço telefona para dentro do parque, os 4 primos conversam entre si)

Jean-Phillipe – Tens a certeza que foi ali que deixámos o carro?

Marcel – Absoluta. Então não me ia esquecer de onde deixei o carro, não achas?

Jean-Phillipe (em tom de gozo) – Tu?! Alguma vez... – ri-se para Pedro e Inês –

Pedro – E os documentos do carro, também não têm?

Jean-Phillipe – Nada. Está tudo dentro do carro.

Pedro – Boa. Mas o carro é de quem mesmo?

Jean-Phillipe – É da Fernanda, mas quem anda com ele é a filha, a Cláudia.

Pedro – Hummm... deixa lá ver se a polícia já sabe alguma coisa... e então, sr. Guarda, alguma coisa?

Polícia – Lamento, mas não. De certeza que deixaram o veículo nesse lugar?

Jean-Phillipe – Absoluta.

Pedro – Sr. Guarda, acha que há alguma hipótese de o carro ter sido roubado?

Polícia – Não era a primeira vez que isso acontecia na baixa, se bem que é raro.

Inês (já sentada, num banco ali próximo, a observar divertida o desenrolar dos acontecimentos) – Não acredito nisto. Querem ver que roubaram mesmo o carro?!

Polícia – Os senhores têm os documentos da viatura convosco?

Jean-Phillipe – Não. Está tudo dentro do carro.

Polícia – Ok. Então, presumo que o carro não seja vosso...

Pedro – Pois não. O carro é de uns familiares nossos.

Polícia – Então, só o proprietário, caso o carro tenha sido roubado, é que pode apresentar queixa da ocorrência.

Pedro (virando-se para Marcel e Jean-Phillipe) – E agora?! Onde é que estão a Fernanda e a Cláudia?

(Jean-Phillipe, em surdina diz qualquer coisa, imperceptível para o polícia, a Pedro. Este começa a rir):

- E agora, como é que explico isto ao polícia?!

Polícia – Mas os senhores saberão onde moram os proprietários, certo? Ou têm os números de telefone deles, certo?

Pedro – Marcel, sabes onde mora a Cláudia?

Marcel (num gesto de desmazelo) – Eh pá, ali para o pé do campo da bola...

(começam os 4 a rir)

Pedro – Bom, sr. Guarda, a situação é a seguinte – um bocado atrapalhado –, é que a proprietária está em Espanha onde foi fazer uma intervenção cirúrgica delicada e a filha, que é quem realmente anda com o carro, é surda-muda.

Polícia (estupefacto, permanece em silêncio até reagir) –Eh lá, então, não sei... não sei...

Pedro – Nem nós... é uma situação complicada...

Polícia – Pois...

Pedro (para Jean-Phillipe) – E agora?..

Jean-Phillipe – Sei lá...

Polícia (interrompendo-os) – O máximo que podemos fazer é comunicar a um carro-patrulha o roubo de um veículo com a descrição que nos deram.

Pedro – Pois, é o melhor a fazer.

Jean-Phillipe – E nós, entretanto, tentamos entrar em contacto com os proprietários do carro...

Marcel – Pois, mas se uma está em Espanha e a outra é surda... nem ouve o telefone nem a campainha de casa...

Pedro (a rir) – Pois é. Eh, eh, eh.

Inês- Bom, aqui já não podemos fazer nada. Vamos mas é embora e esperar que o carro seja encontrado.

Pedro – É o melhor a fazer. Sr. Guarda, obrigado pela atenção. Assim que entrarmos em contacto com os proprietários, eles passam por cá para regularizar a queixa.

Polícia (já depois de ter comunicado aos carros-patrulha o roubo do automóvel) – Sim, sim. Façam isso. Boa noite.

(saem todos da esquadra, a caminho do carro de Pedro e Inês)

Inês – Acham que o polícia ficou a pensar que éramos malucos?! – e ri-se perdidamente –

Pedro – Provavelmente. Ou então que isto era para os apanhados.

(desatam todos a rir)

Marcel – É divertido, é.. mas ainda não sabemos onde está o carro...

Jean-Phillipe – Pois... – e começam todos a rir novamente –

(entram todos no outro veículo)

Inês – Não acham melhor darmos outra volta por aí, a ver se vemos o carro em algum lado?..

Jean-Phillipe – Pois, é o melhor. Não se perde nada com isso.

(andam cerca de 500 metros e num sítio onde já tinham passado anteriormente, Inês intervém):

– Olhem ali, um VW Golf preto, não é aquele?

(Marcel e Jean-Phillipe em coro):

– E não é que é mesmo?!

Jean-Phillipe – Pois foi. Como ao pé da bomba de gasolina tivemos receio que rebocassem o carro, estacionámos aqui...

(enquanto todos se riem da situação, Pedro lembra-se de alertá-los para um facto):

– Agora, não se esqueçam que a Polícia anda à procura de um carro igual a este. Aconselho-vos a ir já para casa.

Jean-Phillipe – E não devíamos passar na polícia e dizer-lhes que encontrámos o carro?

Inês – É melhor é irem já para casa. Se vão lá, ainda ficam lá a prestar declarações e ainda terão que soprar o balão e tal... além do mais, têm alguma maneira de provar que o carro vos foi emprestado?

Marcel – Não...

Inês – Então...

Pedro – Vá, vão já. Até amanhã.

(enquanto Pedro e Inês se dirigem, também eles, para casa, rindo da situação, Marcel e Jean-Phillipe fazem o mesmo, ainda a discutir sobre quem tinha tido a ideia de estacionar ali.
Quando, uns metros mais à frente, se cruzam com um carro-patrulha. Este ao ver um carro com aquela descrição, acciona a sirena e enceta uma perseguição a Marcel e Jean-Phillipe)

Marcel – E agora, faço o quê?

Jean-Phillipe – Eh pá, encosta que já explicamos o que se passou.

(Entretanto, surge, à frente deles, outro carro-patrulha que lhes barra o caminho. Os polícias dos 2 carros saem de armas em punho):

- Tudo para fora do carro, vá, toca a sair.

Jean-Phillipe – Tal não é esta merda?!.. Ainda por cima com os copos!..

FIM


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